Meninas são em seus tons pastéis, princesas bailando em seus
vestidos de bala de coco.
O meu contraste ofende os olhares no salão.
Olhares que respondo com a verdade do fundo dos meus.
Eu sou vermelho.
Maçãs, rosas, fogo, sangue, carne, libido e paixão. Pimenta
que reina.
Abro caminho com a alvura da pele roubada das brancas
estrelas, pela escuridão que os olhares lançam.
Elas querem ser vistas dançando, sonhando e
rodopiando.
Eu quero derreter suas máscaras, desanuviando suas mentes,
limpando as teias de seus olhos.
Vermelho.
De lábios ardentes e da fileira do meu próprio sangue que
escorre por eles.
Elas são princesas suaves, delicadas, perfeitas, de lábios
brilhantes e bochechas coradas e olhos alegres voltados a mirar belas casinhas
brancas cercadas por corações.
Enquanto minha cara manchada revela as olheiras e
inconsequente, limpo a mente e me entrego ao agora, esqueço, desafino a canção
sem vergonha.
Elas engolem suas mágoas e sorriem com suas coroas douradas
brilhando suaves ao sopro da brisa.
Eu choro, machuco, desmonto e destruo, me explodo, costuro e
começo de novo. Eu erro e me lanço do abismo. E me apaixono pelo lado mais feio
de mim.
Elas precisam de um príncipe combinando, de sorriso aberto e
olhos sinceros, sem mistérios que jamais as faça chorar e as ensine a voar.
Eu não quero o seu príncipe. Somente lamber-lhe a essência,
saborear até o último gole da sua alma, lança-lo a parede, revelar o mistério,
cravar-lhe os dentes, encontrar seu vermelho, contemplar com um sorriso seu
mais ofensivo contraste. Pouco importa onde se encontrem seus braços, eu só quero desvendar e ter cada milímetro de alma.
Eu só quero dançar nua, em branco e vermelho, manchada com cicatrizes de cortes profundos, sentir o prazer luxurioso da afronta a me
percorrer como uma onda de pequenos espasmos pelo simples fato de se estar aqui
e agora sob a luz da Lua, ao vento, debaixo da tempestade.
Elas querem sorrir o tempo todo, perfeitamente bonitas e
claras, cor de rosa em suas casas alinhadas e corretas, politicamente suaves e
cor de rosa, com seus príncipes suaves, e crianças engomadas cheirando sempre à
sabonete e tendo sempre suas ações, sonhos e sentimentos, todos perfeitamente
cor de rosa e agradáveis aos seus ritos morais.
Enquanto eu só quero respirar tudo agora, sem jamais me
arrepender, arriscar, sentir, ousar, sempre sem culpa. Sentir o prazer que a
dor dá, e arreganhar meu sorriso vulgar contemplando o máximo da jornada nesse
Jardim das Delícias Terrenas, conhecer sem pecado, sem pudor, sem me corromper,
amar de verdade, me entregar de verdade, viver de verdade.
Eu sou contraste. Completamente Luz. Branco e Vermelho.
A batida do coração bombeando o sangue, o impulso da vida.
E o suave sopro da morte que o faz calar, desbotando aos poucos seus tons.
A batida do coração bombeando o sangue, o impulso da vida.
E o suave sopro da morte que o faz calar, desbotando aos poucos seus tons.
Eu vou tocar seus rostos e queimar, leva-los comigo,
inflamar o mundo ao meu redor, acender em vermelho essas mentes adocicadas e
amaciadas.
E ai vou dançar, rodopiando na noite, ditando a canção no meu vestido rasgado. Vermelho.
Tingir nessa dança, com o fogo passional até que seu último
crepitar transforme tudo no Cinza sereno e pacifico do fim, fim de noite, alvorecer em meios aos escombros.
Escombros de quem fomos, do que fomos e que agora somos. Sou.
Vermelho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário