quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Crônica de centro de cidade

Um dia cinza não proporciona muitas oportunidades. Na verdade, caras amarradas parecem estampadas por todos os lados enquanto, jogados pelos cantos moradores de rua são como fantasmas. O cenário banal da correria reflete um retrato triste da indiferença.
E eu, ali parada faço também parte daquele quadro. Feliz em ser paisagem, telespectadora do mundo à observar a vida que passa ao meu redor. Um senhor se pesa, uma loja toca música, duas jovens trocam confidencias de adolescente, a chuva não cessa e meus olhos à passearem por cada personagem, se fixam numa moradora de rua.
Ela é uma mulher de idade que suja e maltrapilha, segura um colorido guarda chuva de criança. E dança. Dança no meio da rua, na chuva, alegre a equilibrar os passos soltos e o guarda chuva. Tenta cumprimentar um, acena para outro, distribui sorrisos desdentados enquanto saltita de um lado pro outro.
Não existe mais ninguém no seu mundo, ninguém relevante para que ela se importe o suficiente e deixe de seguir sua vontade. As fazes amargas espiam a “louca” com desprezo, debocham, viram o rosto, riem com escárnio ao passar por ela.
Homens enfiados em seus ternos, jovens falando ao celular, mães protegendo suas crianças...Todos perfeitos, todos perfeitamente encaixados numa função predisposta pelo conceito de sociedade, todos perfeitos à desprezar a alegre dançarina.
De longe eu observo. E num instante já me encontro apaixonada pela “louca”, quero correr até ela, dar-lhe um abraço, enche-la de beijos e dizer o quanto ela é linda e o quanto a sua felicidade, que os normais desprezam é linda, preciosa, sublime!!! Emana Luz. Naquela manhã, o corpo mais pobre, a carne mais macilenta e enrugada, a camada de pó e desleixo na verdade escondiam uma caixa de joias, guardando a mais valiosa alma ali presente.
Loucos eram todos aqueles...Normais porém infelizes.

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